1.4.15

A CALOTA DO FALCON

Certa vez observamos, em uma inspeção pré-vôo, que faltava um dos parafusos de fixação da calota do trem de pouso direito de nosso Falcon 100. O Falcon, aeronave de fabricação francesa de aerodinâmica bastante refinada, paradoxalmente possuía trem de pouso escamoteável, e não retrátil. O trem escamoteável apenas "abriga-se" contra a fuselagem, mas não fica "escondido", coberto
quando em vôo, é exatamente igual a um Boeing 737 que recolhe seu trem de pouso, mas não o "esconde" com comportas aerodinâmicas, como o Airbus 320, por exemplo. A calota que há no Falcon (e no 737), por falta de comportas, serve para proporcionar menor atrito ao fluxo aerodinâmico, e equipa apenas a roda extema do trem de pouso duplo daquela aeronave, naturalmente em ambos os lados.

Observamos que, mesmo faltando um parafuso, a calota encontrava-se firme em sua posição. Estávamos em uma pista desprovida de qualquer auxílio para manutenção, e verificamos que o problema se devia a falha da rosca receptora do parafuso de fixação extraviado, o que nos impedia de simplesmente procurarmos, em uma casa de ferragens da localidade, um parafuso compatível.

Como não havia o que fazer, deixamos como estava e decolamos para uma cidade litorânea do Sul do Brasil. (Nota do autor: com a experiência acumulada, hoje em dia minha atitude seria outra: retiraria a calota da roda).

Durante o vôo, sentimos mais do que ouvimos um “plot” surdo e rápido. Ao pousarmos, constatamos que a calota havia sido arrancada em vôo, pois provavehnente havia ficado com sua face do parafuso faltante virada para o vento, e a 460 nós (+- 230 nós indicados), este fluxo aerodinâmico foi mais do que suficiente para destruir toda a fixação restante da calota de alumínio, e ejetá-la.

Ficamos pensando que agora alguém, no interior do Estado do Paraná, passou a acreditar em discos voadores, após ver descer aquele objeto oval, metálico, em grande velocidade...