14.5.11

4. O COMANDANTE E A DECISÃO SOBRE QUAIS PANES ACEITAR

Como comandante, seja de um avião particular, taxi aéreo, linha aérea ou qualquer outro ramo da aviação, temos todo um universo de situações a serem gerenciados, antes, durante, e após cada vôo. Interagimos com colegas, usuários, chefia, máquinas. E um dos ítens que mais se sobressaem nesse gerenciamento é, como não poderia deixar de ser, a manutenção de nossas aeronaves. A manutenção é, também, uma das facetas da aviação mais desconhecidas dos usuários (que são, naturalmente, toda a razão de ser da aviação).

Pensam os usuários: -"Voar com uma aeronave em pane? Que perigo!"

Mas, como ocorre com nossos carros, há "panes e panes". A regra principal é jamais, sob hipótese alguma, colocar a segurança de vôo em risco.

Existe o manual entitulado "MEL - Minimum Equipment List" a bordo, editado pelo fabricante da aeronave. Alí, cada sistema da aeronave é analisada, e autoriza (ou não) o vôo da aeronave com sistemas em pane, ou mesmo faltantes. Sem, absolutamente, afetar a segurança. Por exemplo, uma aeronave pode ser despachada para o vôo sem faróis de pouso, desde que o vôo seja feito apenas durante o dia. Mesmo o mais leigo dos usuários vai concordar que não haveriam problemas nessa operação. Ou, situações mais complexas... Por exemplo, se temos 3 rádios VHF para comunicação, o MEL pode liberar para vôo com apenas 2 em funcionamento, e ainda dando prazo para sua correção. Ou ainda, liberar com apenas um em funcionamento, mas apenas para vôo diretamente para a base onde sofrerá manutenção. E o ítem pendente sempre cairá na lista intitulada "ACR - Ação Corretiva Retardada", com prazo para sua correção.

O MEL jamais poderá ser alterado pela empresa operadora da aeronave, com exceção de ADIÇÃO de ítens. Assim, o MEL personalizado de uma empresa JAMAIS poderá autorizar o vôo de uma aeronave com ítens pendentes não autorizados pelo Fabricante, mas muitas empresas que prezam intensamente pela segurança, podem, eventualmente, AUMENTAR essa lista de ítens imprescindíveis ao vôo, afastando-se assim ainda mais das margens de segurança, em direção à segurança total! Tenho a felicidade de trabalhar numa empresa assim! E, importantíssimo ressaltar, não cabe portanto ao comandante decidir "o que pode estar faltando" para seu vôo. Isso nos tira um enorme peso das costas! Mesmo porque, nossa especialidade é operar a aeronave, e muito embora muitos de nós tenhamos profundos conhecimentos de mecânica e do funcionamento de nossas aeronaves, isso é o que se chama de "nice to know", não sendo uma exigência. Portanto, o comandante não será o responsável por uma decisão na qual ele não é especialista.

Essa decisão é deixada à cargo do MEL, e portanto é deixada à cargo do fabricante da aeronave (editor do MEL), que é, sem sombra de dúvida, quem mais conhece sobre a aeronave em questão.

Infelizmente (nem tudo são rosas...), existem empresas que colocam o lucro acima da segurança, e forçam os aviadores a aceitarem ítens "no-go" (os ítens que o MEL cita como IMPRESCINDÍVEIS PARA O VÔO). São as empresas que encabeçam as listas de acidente. Fujam dessas empresas! De que vale a aeronave ter saído pontualmente no horário, se decolou com um ítem importante para a segurança de vôo faltando?

Portanto, um recado a todos os usuários: JAMAIS reclamem de um atraso devido a manutenção da aeronave onde irão voar! É sinal que a empresa preza a segurança, e antes de decidir lhes dar um vôo decolando pontualmente no horário, preferiu lhes dar um avião mecanicamente perfeito, que lhes levará com segurança ao seu destino, ao encontro de seus entes queridos!




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